quarta-feira, novembro 08, 2006
Padrinho Mário
O meu padrinho também era uma pessoa super doce e terna, alto entroncado e com uma carequita que fazia as minhas delícias, adorava meter-me com ele, fazer-lhe festinhas na careca, cócegas etc, ele dizia que era um ringue de patinagem.
O meu padrinho foi um grande amigo do meu pai e também sofreram muito com a sua morte.
Adorava ficar perto dele, tinha sempre um carinho para mim, um amor de homem, claro que tinha os seus defeitos, mas não para mim.
Na altura do casamento e dos namoros, as visitas tornaram-se nulas, há sempre algo para fazer que nos anula as visitas de cortesia... E quando olhamos... é demasiado tarde...
Anos mais tarde creio que o Fábio inda não teria um ano, soube que ele estava no hospital muito doente, resolvi por as pernas a trabalhar e fui lá visitá-lo, axo que na altura não sabia bem o que ele tinha...
Foi uma das piores desilusões da minha vida...e vou lembrar para sempre a minha entrada em “slow motion” no seu quarto de hospital que ele partilhava com mais 5...moribundos...
Quando penso ainda as lágrimas me turvam os olhos... O homem outrora cheio de vitalidade, alto, forte e entroncado... não era mais... do que alguém prostrado numa cama, com grandes olhos e uma careca... a careca axo mesmo que foi a única coisa que ele trouxe do outro homem... magrissimo de fazer pena... nem em pé conseguia estar... era cancro... na garganta, mesmo no cruzamento com o sistema respiratório... nada a fazer...
A minha madrinha tinha nos olhos um misto de tristeza profunda com alegria por me rever... Antes não fosse esse o motivo.
Fiquei de rastos, nunca pensei que o ser humano podesse ficar assim em farrapos... Ninguém merece...
Isto foi em Abril, muito perto do meu aniversário, ainda o visitei mais uma ou 2 vezes, não preciso agora, era de partir o coração, ele já não comia há bastante tempo, era alimentado por sonda directamente para o estômago, a minha madrinha disse-me na altura que ele coitadinho tinha tantas saudades de comer... falava sempre numa sandes de chouriço, e quando dormia sonhava com comida e até mastigava...
Ninguém merece... Viveu só mais uns dias... e depois partiu... ao menos parou de sofrer...
Faleceu um dia depois do meu aniversário, sei que o que vou dizer é mau, mas cheguei a ficar feliz por não morrer no meu dia de anos, já tenho essa experiencia na familia, não que seja menos doloroso a sua ausência, mas ao menos não se festeja num dia em que um dia perdemos alguém...
Beijos grandes meu querido... que saudes tuas meu parinho... Amarte-ei sempre, e obrigado por um dia me teres dado a mão quando passeámos... é uma das coisas boas que guardo comigo.
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