terça-feira, outubro 17, 2006

Avô – Ilídio Catarino



Meu querido e doce avô, lembro-me dele perfeitamente, normalmente só o via no Verão quando ía de férias para Milfontes, ele morava numa aldeia perto de Odemira, era um daqueles velhotes que vestia à compadre, calcinha de pinça preta, camisinha com colete por cima, e um chapéu preto de abas, creio que também era dos que se sentava nos bancos de praça lá da aldeia.
Velhinho bem castiço, de olhos meigos.
Lembro-me perfeitamente de ele fazer os 13 km q nos separavam, de S. Luís a Milfontes em bicicleta, uma daquelas “pasteleiras” que até tinha o registo de propriedade e matrícula :P, um espetáculo mesmo, lembro também de me trazer um saco de arroz cheio de pinhões ;) e como eu me entretinha a parti-los no quintal... que saudades...
Eu era a netinha dos olhos dele, “ A minha Paulinha” como ele dizia, com os olhos embevecidos ao olhar para mim...
Tinha 3 filhos, A minha tia Lídia que está em Londres, o meu pai e a minha tia Odete que também está em Londres, tinha mais netos, mas eram “estrangeiros”.
Lembro de uma vez deveria ter eu os meus 9 anos, a minha tia Lídia após longos anos sem visitar a família, veio apresentar os 2 filhotes ao pai, Heidi e Paul, estavamos em Milfontes de férias, e mais uma vez ele pegou na pasteleira e pedalou pela serra os malfadados 13 km, foi nos ver à praia, andávamos a brincar na àgua os 3, e ele só dizia “ ai a minha Paulinha...” Claro que a minha tia não ficou muitoooooo feliz... mas claro que quem nos está mais longe dos olhos também nos está mais longe do coração, e neste caso os Ingliús... estava longe de mais para ele.
Morreu, como o meu pai também a um dia 21, malfadados estes dias, mas de Janeiro, creio que teria eu uns 13 anos, lembro do funeral do cortejo pela aldeia com todos os aldeões, pois ali todos se conhecem e vivem a vida inteira como uma grande família.
A herança que me deixou... adivinhem... :P A PASTELEIRA!!! O verdadeiro tesouro que ele havia comprado há pouco, ainda hoje guardo o registo de propriedade da bixana, anos mais tarde ela fazia um sucesso entre as miúdas do meu bairro, dava para levar o condutor, uma na frente e mais uma ou duas na traseira, a tarefa árdua era eu chegar com os pés ao chão :)
A ti avô querido, um grande xicoração apertado e um beijo doce tal como os teus olhos.
 
posted by Peste at 10:45 da manhã, |

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